Vila Nova de Foz Côa é uma terra triste. Envelhecida, mal
envelhecida, acusa todos os males da desertificação e da emigração forçada, e
não parece ser capaz de valorizar o pouco (muito) que tem. Foz Côa não tem
oferta de hotelaria ou de restauração, e o município está tão pouco preparado
para o turismo quanto os habitantes. Um hotel, uma hospedaria, um albergue de
juventude e algumas casas de turismo rural nas redondezas e um único
restaurante – a primar pela vulgaridade - no centro e alguns outros dispersos,
com horários estranhos. A vila está degradada, revelando um desleixo que não se
compreende, com um pequeno núcleo histórico mal tratado. Pode apontar-se a
pobreza da região ou a falta de dinheiro para recuperar as casas velhas
atingidas pelos males do tempo ou da emigração, mas tudo o que se revela em Foz
Côa do inqualificável espólio pré-histórico, são uns candeeiros de gosto
duvidoso. Dir-me-ão que é uma observação injusta e que eu não conheço a real
situação financeira da vila, mas esta é a observação que um forasteiro pode
fazer. Mas porque é que o posto de turismo fecha às 17.30 no pico do turismo? -
Vila Nova de Foz Côa ignora as gravuras e quase toda a pouca oferta turística é
deixada para o investimento exterior.
É difícil comer em Foz Côa. Dir-me-ão que não existem
restaurantes porque não existe procura no resto do ano, mas eu não compreendo
como os poucos tascos abertos apenas têm para oferecer cerveja, café e batatas
fritas de pacote. Qual é o investimento necessário para ter pão, presunto e
queijo? Em qualquer ignota aldeia espanhola é possível picar das oito da manhã às duas da madrugada (com excepção para a
hora da siesta), mas em Foz Côa a
pouca oferta resume-se a uns poucos restaurantes com cadeiras e mesas feias -
de plástico e oferecidas por uma qualquer marca de cerveja -, com horários
rígidos e pratos de secretos e hambúrgueres, com fecho semanal no único mês do
ano em que têm clientes. Produtos locais, horários generosos, uns simples
petisquitos: nada! E lamentam-se!
A oferta de camas é ridícula, obrigando à realização de
visitas relâmpago, organizadas a partir de empresários exteriores: o único
sítio para dormir que encontrámos foi um último quarto no albergue de
juventude! – É a pescadinha de rabo na boca: não existe oferta porque não há
procura e não há procura (ela existe, mas é deixada para o exterior) porque não
há oferta.
Não existem empresários locais com discernimento para investir
no turismo local, e a edilidade não quer saber do turismo da cultura para nada
e o pouco de animação que existe na região parece resumir-se às festas
religiosas que se centraram todas no mês de Agosto, com procissão, folclore,
bandas pimba e bailaricos. Não estava propriamente à espera de concertos de
Jazz ou de música clássica, mas parece-me que quando se promove a indigência, a
indigência tem tendência para prevalecer.
Vila Nova de Foz Côa não é uma vila agradável de visitar. Vila
Nova de Foz Côa não gosta das gravuras pré-históricas. Não aconselho as grandes
excursões, porque a visita às gravuras e ao museu merecem uma observação
demorada e atenta, mas a reserva prévia de dormida e um farnel parecem-me
avisados.
À procura das ruínas do acampamento romano fomos parar a
Allariz, uma cidade galega de que creio nunca ter ouvido falar antes. Cidade
pequena, de património granítico valorizado, com imensa vida e turismo
eficiente. Não vale a pena descrever-vos o que é um fim de tarde no centro da
cidade (uma qualquer localidade espanhola, seja galega, andaluz ou catalã – e
deve ser provavelmente o que os une), com toda a gente a beber e a petiscar na
rua, mas há uma vida e um entusiasmo naquela peculiar forma de viver – de estar
- que contrasta com o nosso.
Depois o contraste prolonga-se por tudo. De Vila Real a
Chaves fomos pela autoestrada – a pagar, claro -, e entrámos em Espanha por uma
muito boa estrada que se dirigia a Orense – grátis, claro. Descemos de umas
ruínas romanas num pequeno aglomerado de casas, mas com um museu dedicado às
ruínas, por uma estrada terciária, mas cuidada e sinalizada, para entrar em
Portugal por um caminho de cabras. O contraste é de gargalhada. Uns quilómetros
abaixo localiza-se o misterioso mosteiro de Pitões de Júnias. À entrada, um
grande cartaz avisa os visitantes do risco de ruir das pedras seculares
(anteriores à nacionalidade) do mosteiro…
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