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sábado, 17 de janeiro de 2015

Julio Cortazar, A volta ao dia e afim




 


É sabido, Julio Cortázar não é um autor fácil. Não é um autor fácil de ler e mais difícil ainda de traduzir. Alguns dos seus livros são particularmente «difíceis» e constituem verdadeiros desafios; A volta ao dia em 80 mundos é um destes livros. As razões são várias, a começar pela diversidade de formas e objectos do autor, que ora utiliza um estilo que diríamos jornalístico, até à poesia; ora utiliza neologismos, alguns deles jocosos ou deliberadamente errados, ora escreve de forma algo encriptada, passando de um capítulo de fácil leitura para outros de escrita densa; ora conta uma história, ora ensaia sobre um ou outro autor ou artista.

É pois um livro difícil. Já o referi em anterior post, mas isso não desculpa a tradução, a revisão e a edição.

O que é estranho na tradução, e revisão, é que é desigual. Alguns dos textos são exemplares, enquanto outros deixam muito a desejar; parecendo ter sido feitas por diferentes indivíduos, ou pelo menos com diferente atenção. Já referi a pontuação desastrada que se arrasta pelo livro todo, mas as gralhas regressam quando menos se espera: «Vale a pena ser tradutor free-lance porque pouco a pouco vão-se conhecendo os ministérios da Europa…» (p.105), «não e xiste aí qualquer ficção.» (p. 131) ou, pior, …«é um livro para ser lido na cama afim de não se adormecer noutras posições…» (p.118).

Enfim, já terminei o livro. Como disse, a tradução e a revisão são desastradas, mas nem sempre. Uma boa parte do livro lê-se bem, mesmo se, graças à pontuação, eu o tenha feito aos solavancos. Mas pronto, quem como eu não seja capaz de o ler na língua original, sempre digo que os textos dedicados a Clifford Brown, Louis Armstrong e Thelonious Monk são antológicos.


A volta ao dia em 80 mundos, Júlio Cortazar, Cavalo de Ferro, 2010, 3.ª edição

( tradução) 


sábado, 1 de novembro de 2014

Julio Cortazar, Lester Young, «e não se atreviam a divertirem-se»


Por largas décadas a bibliografia traduzida em Portugal de Julio Cortázar resumia-se, creio, a três livros: «Histórias de cronópios e de famas» e «Todos os fogos o fogo», ambos edições dos anos 70 da Estampa, e «Bestiário» da Dom Quixote. Creio não estar enganado. Já nos anos 90 terão sido reeditados estes títulos, e a Dom Quixote publicou em formato de bolso, «Blow Up e outras histórias», tradução com título oportunista (provavelmente traduzida da versão inglesa com título oportunista) de «Las Armas Secretas», que haveria de ser republicado pela Cavalo de Ferro já este ano, respeitando o título original. Já aqui falei disso.
Enfim foi já neste milénio, creio, que foram finalmente editados o monumental «O Jogo do mundo (Rayuela)», «Final do Jogo», «Gostamos tanto da Glenda», «Papéis Inesperados» ou «A volta ao mundo em 80 dias». E continua por editar o grosso da produção literária do profícuo Cortázar, mais de quarenta títulos. Mas estamos melhor, pois estamos.
Depois de ter relido já este ano «As Armas Secretas», entusiasmei-me para «A volta ao dia em 80 mundos».
Embiquei logo na página 10, segunda página de texto: «… e não se atreviam a divertirem-se». Que raio!? Reli a frase. Extravagância de escritor? - A frase era repetida três linhas abaixo.
Desconfiado, prossegui a leitura com as «originalidades» a fazerem-me tropeçar a cada passo. Eu que tenho uma antiga aversão à gramática, encalhava nas vírgulas que não me deixavam respirar, numa pontuação que eu diria pelo menos questionável.
E pouco depois, a página 21: «Que sorte excepcional ser sul-americano … e não sentir-me obrigado a escrever a sério…».
Pois. Gralhas são gralhas, mas isto já não tinha nada cara de passaroco. Não sei de quem é o mal: se do tradutor, se do revisor, se da editora (se meu). Não será fácil traduzir um autor da estatura de Julio Cortázar, mas ele merecia mais respeito.

E aos tropeções vou lendo. Logo na primeira página Cortázar declara a sua inspiração em Lester Young; pois quem mais? Entre os cronópios, as famas e os demais fantasmas que assolam a sua escrita estão, para os jazzómanos, os mais queridos Clifford Brown – que página magnífica, dorida, bela -, Thelonious Monk, Jelly Roll Morton, Louis Armstrong, Charlie Parker; mas também, para todos, ao acaso, Mallarmé, Rimbaud, Max Ernst, Jorge Luis Borges, Keats, Lewis Carroll, Duchamp, Brecht, Dreyer, Alain Resnais, Chaplin e Keaton, Adorno, Gardel, Xenakis, Jean Dubuffet, Edvard Munch e Júlio Verne.
Será que no final Cortázar vai sobreviver à tradução desastrada?

A volta ao dia em 80 mundos, Julio Cortázar (1967), Cavalo de Ferro, 2010 (3.ª edição)  

sábado, 28 de junho de 2014

As armas secretas






O perseguidor é uma das histórias de As armas secretas, reunião de cinco contos de Julio Cortázar.  
O perseguidor conta a história de Bruno, um jornalista e crítico de Jazz que se encontra com Johnny Carter, um saxofonista acossado pela droga. Bruno emaranha-se na vida – a loucura, o falecimento da filha, o saxofone perdido, o internamento, a família -,  na música, na instabilidade e no génio de Johnny, seguindo-o até ao fim.

É uma história angustiante, escrita na forma dramática, única, do grande escritor que é Julio Cortázar; e é a forma de Cortazar, um apaixonado pelo Jazz, homenagear Charlie Parker - é dele que se trata -, que tinha acabado de descobrir.

A história é um clássico da literatura, dir-se-ia mais uma peça do puzzle de Rayuela, a obra prima de Cortázar.

As outras histórias de As armas secretas são, além do conto que dá o nome ao livro, Cartas da mamã, Os bons serviços e As babas do diabo, que inspirou o filme de Antonioni, Blow Up.

Como escrevi noutro post, este livro foi editado há uns anos numa edição de bolso pela Europa América, com o título Blow Up e outras histórias. Mas até pela fidelidade aos títulos originais, As armas secretas da Cavalo de Ferro repõem a dignidade que faltava ao livro de Julio Cortázar.

Obrigatório!

As armas secretas, Julio Cortázar, Cavalo de Ferro, 2014

sábado, 1 de março de 2014

O Perseguidor

 
No ano em que se celebram 100 anos do nascimento (e 30 anos do desaparecimento) de Julio Cortázar, um dos mais importantes escritores do século XX, a homenagem da Fundação Saramago e da Casa da América Latina faz todo o sentido.
No espectáculo do São Luiz foram lidos excertos de O Perseguidor por José Rui Martins (Trigo Limpo – Teatro ACERT), conto onde Cortázar homenageia o saxofonista Charlie Parker.
A música de Charlie Parker interpretada pelo Quarteto de Carlos Martins serviu de pano de fundo à leitura, que foi também ilustrada pela projecção de imagens retiradas do trabalho do desenhador José Muñoz.

Para um espectáculo que se poderia esperar monótono, a leitura de José Rui Martins, que se movia entre vários espaços no palco, foi bastante dinâmica, e o contraponto com a música de Carlos Martins muito eficaz.   


 O conto O Perseguidor pode ser encontrado em língua portuguesa na colectânea Blow-up e outras histórias (Portugal) e As Armas Secretas (Brasil). 
Existe, pelo menos publicado em francês - a versão que conheço -, uma edição magnífica sob o título de L'Homme À L'Affût onde o texto é ilustrado pelos desenhos de Jose Muñoz.

 

(A propósito desta recolha, um dos outros contos - Blow Up -, inspirou Michelangelo Antonioni para o argumento do filme com o mesmo nome.)
 

São Luiz, Jardim de Inverno, 12 de Fevereiro 2013, 18.30