Miles en Paris, tradução espanhola do original francês Miles et Juliette, conta a história da passagem de Miles Davis por Paris naquela primavera de 1949, e o seu encontro com Juliette Gréco.
É uma história romanceada, a partir do pouco que se sabe, e que é apenas que naquela semana Miles e Julliette se envolveram, e que Miles Davis regressou a New York.
A história possui todos os ingredientes para estimular a imaginação, e o pouco que se sabe contribui (por ser pouco): Juliette era uma mulher jovem e lindíssima, cantava e escrevia poesia e possuía o charme e a rebeldia das parisienses, e Miles era um jovem irreverente negro norte-americano, uma celebridade já, no mundo Jazz, apesar da idade. A atracção dos opostos terá tido a força da fatalidade e eles apaixonaram-se perdidamente, assim se conta.
Nessa semana Miles Davis conheceu Boris Vian, Jean Paul Sartre, Pablo Picasso, Albert Camus, Simone de Beauvoir, Tristan Tzara, you name it, apaixonou-se e viveu dias de verdadeira liberdade. Em Paris não havia restaurantes nem hotéis só para brancos e toda a gente o reconhecia como um grande músico e uma personalidade, podia passear-se com uma mulher branca sem ser incomodado e podia até ir para a cama com ela!
Conta-se que Miles percorreu Paris acompanhado de Boris Vian ou a bela francesa e viveu dias que terão sido inesquecíveis. O que é que o levou a regressar a New York depois de num primeiro momento ter pensado em ficar em Paris (como ficou Kenny Clarke, por exemplo), ou até a impedir a apaixonada Juliette Gréco de o acompanhar, eles nunca contaram.
Podemos especular que Miles tinha ambições (que se goraram no regresso a New York: o «Bird of the Cool» esperaria uma década para ver a luz do dia), ou tinha mulher e filhos, mesmo se ele não fosse propriamente um modelo de marido ou pai, ou porque ele não tinha nada para oferecer à jovem rebelde e, pelo contrário, ele tinha a noção de que ela não seria bem aceite. Miles e Juliette reencontraram-se duas ou três vezes ao longo da vida, mas a sua historia ficou sempre entre eles.
A história que Salva Rubio e Sagar contam é que eles viveram um amor tórrido, e que desesperadamente se separaram, mas nunca se esqueceram, e essa é a história bonita e triste que interessa.
Salva Rubio, o argumentista, é também historiador, e fez questão de cruzar a informação disponível, entre a biografia de Miles de Ian Carr, os documentários de Ken Burns e os escritos de Boris Vian. A história é construída a partir daí, mesmo se ele assume que se trata de uma história ficcionada: afinal Miles e Juliette nunca contaram o que é que aconteceu. As lendas vivem destas coisas.
A graphic novel é completada com um dossier de mais de uma dezena de páginas que ajuda a situar a história do ponto de visa musical e histórico, e uma playlist de 64 temas, um por cada página. Desenho a fugir ao descritivo e ao bonito, com cores fortes e sombrias, e algumas singularidades de nota.
Como eu começo por dizer, Miles en Paris é a versão espanhola de Miles et Juliete (que é a que eu devia ter comprado). Norma Editoral
Argumento: Salva Rubio
Desenho: Sagar