A visita às gravuras é, naturalmente, obrigatória, até
porque elas são o leitmotiv do museu.
A visita através do museu deve ser reservada com antecedência, mas existem
alguns guias particulares acreditados, que podem conduzir os visitantes aos
três núcleos autorizados do Parque Arqueológico: a Canada do Inferno, a Ribeira
dos Piscos e a Penascosa. Visitámos a Canada do Inferno e a Penascosa, sendo
que a visita a este último núcleo foi realizada de noite.
A visita ao núcleo da Canada do Inferno foi feita bilingue -
os outros dois visitantes eram suíços franceses que também falavam inglês.
Pudemos observar as gravuras de (creio que) cinco pedras de xisto, situadas
perto do leito do Rio Côa ao longo de quinhentos metros, após um percurso
realizado em jeep, onde estavam localizadas algumas dezenas de gravuras
realizadas com técnicas diferentes – picotado e abrasão -, por diferentes
autores, em tempos diferentes, tendo como motivos basicamente quatro animais:
cabras, cavalos, auroques e veados. Datadas de até há 25000 anos, as gravuras são
impressionantes de vida e mistério.
A interessante visita de duas horas foi conduzida pelo
informado técnico Marcos, que ajuntou informação sobre a vida natural e a
história da ocupação humana do parque.
A visita a Foz Côa haveria de ser completada com uma visita
nocturna às gravuras que ofuscaria a visita da manhã. Um contacto de última
hora com uma outra técnica – Bárbara Carvalho –, guia e arqueóloga, levou-nos à
Penascosa, um vale situado a 6 Km de Castelo Melhor, por um caminho apenas
acessível de jeep e, como a Canada do Inferno, fechado ao público não
autorizado.
A Penascosa é um vale fechado, com um horizonte que se situa
bem acima dos nossos olhos, obstruindo qualquer poluição luminosa ou sonora.
Tivemos a sorte de realizar a visita numa noite de quarto crescente, em que a
Lua se pôs muito cedo, deixando ver um céu estrelado fantástico; como disse,
sem qualquer poluição luminosa, o que é raro de observar para um citadino. O
silêncio apenas era cortado pelo coaxar ruidoso das rãs que deixavam adivinhar
o Côa a apenas alguns metros. A visita foi sempre acompanhada ainda por
milhares (milhões?) de mosquitos, incomodativos mas não agressivos, morcegos e
ainda aranhas (inofensivas mas aos milhares), que se revelavam à luz da
lanterna da Bárbara.
E se a observação das gravuras da Canada do Inferno nos
tinha impressionado, as gravuras da Penascosa - os traços evidenciados pelas
sombras produzidas pela luz artificial, que permitiam de forma mais eficiente
diferençar os traços -, transportaram-nos para um passado longínquo e
misterioso: o princípio da arte, rituais anímicos, a beleza primordial, o
enigmático insolúvel da vida dos nossos antepassados.
É óbvio que o cenário nocturno – o que não se podia ver -, o
firmamento estrelado, o silêncio insistente das rãs, a natureza agreste, em
muito contribuiu para o deslumbramento que experimentámos. A isto acresceu a
informação apaixonada da nossa guia, interrogando, sugerindo, revelando, e eu
diria que – também graças a ela - a visita se tornou numa outra experiência verdadeiramente
reveladora.
E creio que em ambos os casos a visita deve ser efectuada em
pequenos grupos e com informação e condução avisada, sob o risco de se perder o
essencial.
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