Terei conhecido o Miguel Gaspar num ciclo de conferências organizadas
pelo Zé Duarte
na Fonoteca Municipal nos anos 90, onde também participei, e por essa altura
ter-nos-emos cruzado no Diário de Notícias onde eu colaborava num cantinho
com a minha crónica semanal de discos. Se bem me recordo, o tema da conferência
do Miguel andava à volta da importância dos standards no Jazz. Depois disso o
Miguel Gaspar voltou a ser convidado pelo Zé Duarte para colaborar n’O Papel do
Jazz, onde escreveu sobre Paul Bley e New York e entrevistou Max Roach (com ZD).
Uns anitos mais tarde tive a lata e o gosto de lhe pedir - enquanto «director de redacção» - para
escrever de borla (paguei-lhe com discos...) para a All Jazz. Pois fartou-se de escrever sobre uns discos do Charlie Haden, Abdullah Ibrahim, mais
uns tantos da Jazz in Paris e ainda entrevistou a Jacinta. É possível que existam outros textos espalhados pelo DN ou pelo Público, mas é tudo quanto conheço
escrito sobre Jazz do Miguel Gaspar.
O Miguel era um tipo culto, de um saber abrangente, mas não arrogante, trabalhador e profissional, o que lhe permitia escrever sobre quase tudo.
O Miguel era um tipo culto, de um saber abrangente, mas não arrogante, trabalhador e profissional, o que lhe permitia escrever sobre quase tudo.
Enfim, fomo-nos encontrando ao longo dos anos; ele era um
tipo afável e falador. Da última vez, há três ou quatro meses, encontrámo-nos
na rua; ele fazia a cobertura de uma greve. Falámos de trivialidades, dissemos
mal da escória que nos governa; essas coisas.
Gostava de ler o Miguel Gaspar e de o ouvir falar. Com
frequência não estava de acordo com ele, mas ainda assim o que ele dizia tinha
quase sempre pertinência. Creio que ele era um dos tipos a quem se pode chamar
com propriedade de jornalista. Haverá outros, conheço outros; mas o Miguel
tinha a obsessão da imparcialidade. Tinha aquele jeito – e obsessão - de saber
procurar a perspectiva, a outra perspectiva, que melhor permitisse compreender o
acontecimento: porque é que alguém disse o quê, e quem é que afectou e como;
mesmo para além da sua opinião. Uma ilusão, talvez, essa da isenção e da
imparcialidade, mas eu creio que – eventualmente não a isenção, mas - a sua
procura, estimulavam e determinavam a sua forma de fazer jornalismo.
Ainda estou em choque com o desaparecimento de Miguel Gaspar
(54 anos!!), um dos nossos melhores jornalistas, subdirector do Público e,
enfim, um tipo que gostava de Jazz.
À família e amigos, as minhas sinceras condolências.
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