O Zé P. - nada como ter amigos - ligou-me uma destas noites: «Já viste o livro que saiu na Quetzal, But Beutiful?»
A partir de fontes dispersas como as transcrições
do tribunal militar que condenou Lester Young, artigos espalhados em revistas,
episódios relatados por familiares, biografias, documentários, ou ainda peças
musicais ou ensaios de vários autores, Geoff Dyer constrói oito episódios
ficcionados sobre a vida ou momentos da vida de Lester Young, Thelonious Monk, Duke
Ellington, Ben Webster, Chet Baker, Art Pepper, Bud Powell, Charles Mingus e
Harry Carney, mas por ele perpassam toda uma série de nomes que são familiares
aos amantes do Jazz.
Ao fim do segundo capítulo o livro já confirmou os louvores:
ouvimos o saxofone preguiçoso de Young pelo meio das frases de Dyer, a forma
como Ellington se inspirava ou como anotava as ideias nos guardanapos de
restaurante parecem-nos óbvias, a esquizofrenia é a siamesa do génio de Monk.
«O Jazz», com que o relatório militar remata o diagnóstico de
Lester Young, é a loucura e a droga e o estigma e a sua beleza, e a inspiração e
o tema das histórias de Dyer, e a inspiração e o tema das suas improvisações literárias: diria que a
escrita dramática e obscura de Julio Cortázar de O perseguidor (de que falo no
post anterior) estão presentes neste livro. Dyer enuncia o tema, improvisa,
regressa ao tema; a densidade da sua escrita inspira-se no mais genuíno do
discurso de Charlie Parker ou de Lester Young.
But Beautiful.
Mas é Bonito, Geoff Dyer, Quetzal, 2014
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