«O encoberto» é uma paródia ao sebastianismo, em forma de peça
teatral, de Natália
Correia. Proibida pela censura em 1970, a peça tem na proibição a sua maior curiosidade já que, mesmo do ponto de vista da obra literária da autora, ela é menos interessante. Claro que está lá tudo: o humor corrosivo, a verve carbonárica, o discurso excessivo, a intervenção social camuflada, servido pela escrita barroca que marcava a personalidade literária de Natália Correia. Mas diria que se sente em «O encoberto» o peso do tempo.
Correia. Proibida pela censura em 1970, a peça tem na proibição a sua maior curiosidade já que, mesmo do ponto de vista da obra literária da autora, ela é menos interessante. Claro que está lá tudo: o humor corrosivo, a verve carbonárica, o discurso excessivo, a intervenção social camuflada, servido pela escrita barroca que marcava a personalidade literária de Natália Correia. Mas diria que se sente em «O encoberto» o peso do tempo.
Imagino que a leitura da peça terá posto o censor em pânico:
sem a ter compreendido, o homem do lápis azul refugiou-se na crítica às
libertinagens literárias de Natália Correia.
Confesso que tive dificuldade em compreender o que é que o
censor tinha para cortar, até que reli o relatório que o Público publica logo
nas primeiras páginas da reedição fac-simile. Veja-se o exemplo da página 22 sublinhado pelo censor:
Para se verem livres dos espanhóis os portugueses são capazes de reconhecer D. Sebastião no cu de um gorila.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWnnqDaH4oks4Ean7z0TOSgJJx0iGs1ZUjlP3_7XCfadaLuPhUFTFTVGgNDCy9ECujBFG6G4v0B8wsX78NXDCnWItAJbyxeMP-Kf51DzguBKSH3WahD7hL3d37ZYRMFGJ9ZZH5r0_0BTju/s1600/Natalia_Correia001.jpg)
As novas gerações terão dificuldade em compreender como foi possível um regime governado por tipos tão estúpidos e pequeninos sobreviver 48 anos (as velhas gerações também, mas andamos distraídos).
Mas depois, enfim, recordamos, que um dia, já em democracia,
um primeiro-ministro pequenino proibiu um filme que dava pelo nome de «Pato com
Laranja». Hum…
E depois acordamos do nosso torpor, assustados, quando nos
lembramos que esse gajo pequenino é presidente da república…
O encoberto, Natália Correia, ed. Público, Livros Proibidos
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