terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Robert Crumb desenha os Blues

 



Eu sou um incondicional do Robert Crumb que, para quem não sabe, é o «papa» da banda desenhada underground. Os menos conhecedores talvez já tenham, ainda assim, ouvido falar do gato mais mal educado e pervertido da história, Fritz the Cat, uma criação de Crumb dos anos 60 do século passado.

Para além de ser uma lenda da BD, Crumb é conhecido por ser um audiófilo e um melómano e colecionador compulsivo, e é também um músico amador. Curiosamente, se na banda desenhada (na América diz-se comics ou comix) ele foi um revolucionário e um irreverente, os seus gostos musicais são bastante tradicionalistas, embora em boa verdade eu não tenha nada a apontar-lhe: gosta do velho Jazz, e falo do Jazz de New Orleans, dos blues, de folk e rock (do tempo em que os músicos de rock sabiam tocar, e nada de modernices). Os que estiveram na minha exposição (Hot Club 2021 e depois Festival de Jazz do Barreiro e Funchal Jazz 2022) talvez se recordem de um livrinho de retratos/ caricaturas de lendas da música de Robert Crumb de que eu falei e que dava pelo nome de «R. Crumb´s Heroes of Blues, Jazz & Country».

Este «Blues», tradução brasileira para «R. Crumb Draws the Blues» é uma reunião de histórias e desenhos de desde os anos 70 até ao início do milénio, publicados por todo o lado, sob o tema dos Blues. Tem um pouco de tudo, entre pequenas biografias de bluesmen a histórias rocambolescas, de caricaturas a desvarios de «rabos e mamas» típicos de Crumb, de alucinações psicadélicas a anedotas, cartazes e ilustrações diversas, e ainda aparições de Janis Joplin, B.B. King ou Jelly Roll Morton, «Keep on Truckin’» e «Mr. Natural»; acompanhando, também do ponto de vista estilístico, a evolução, e experiências gráficas do mestre.                 

O Crumb é inqualificável e, mesmo se faltará (essa) unidade estilística à obra, «Blues» é exemplar da sua paixão pela música, da sua irreverência e originalidade e, enfim, da sua arte maior.

Comprei não sei já onde, esta edição brasileira, que tem aquele problemazito da língua, mas que está muito bem cuidada graficamente, capa dura, papel mate, preto e branco e cores, respeitando o original. Vale o peso em ouro.

Blues, Robert Crumb, Veneta (São Paulo), 2021

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