Eu sou um incondicional do Robert Crumb que, para quem não
sabe, é o «papa» da banda desenhada underground. Os menos conhecedores talvez já tenham, ainda assim, ouvido falar do gato mais mal educado e pervertido da
história, Fritz the Cat, uma criação de Crumb dos anos 60 do século passado.
Para além de ser uma lenda da BD, Crumb é conhecido por ser
um audiófilo e um melómano e colecionador compulsivo, e é também um músico
amador. Curiosamente, se na banda desenhada (na América diz-se comics ou comix)
ele foi um revolucionário e um irreverente, os seus gostos musicais são
bastante tradicionalistas, embora em boa verdade eu não tenha nada a
apontar-lhe: gosta do velho Jazz, e falo do Jazz de New Orleans, dos blues, de
folk e rock (do tempo em que os músicos de rock sabiam tocar, e nada de
modernices). Os que estiveram na minha exposição (Hot Club 2021 e depois
Festival de Jazz do Barreiro e Funchal Jazz 2022) talvez se recordem de um livrinho
de retratos/ caricaturas de lendas da música de Robert Crumb de que eu falei e que
dava pelo nome de «R. Crumb´s Heroes of Blues, Jazz & Country».
Este «Blues», tradução brasileira para «R. Crumb Draws the
Blues» é uma reunião de histórias e desenhos de desde os anos 70 até ao início
do milénio, publicados por todo o lado, sob o tema dos Blues. Tem um pouco de
tudo, entre pequenas biografias de bluesmen a histórias rocambolescas, de
caricaturas a desvarios de «rabos e mamas» típicos de Crumb, de alucinações
psicadélicas a anedotas, cartazes e ilustrações diversas, e ainda aparições de
Janis Joplin, B.B. King ou Jelly Roll Morton, «Keep on Truckin’» e «Mr. Natural»;
acompanhando, também do ponto de vista estilístico, a evolução, e experiências gráficas
do mestre.
O Crumb é inqualificável e, mesmo se faltará (essa) unidade
estilística à obra, «Blues» é exemplar da sua paixão pela música, da sua
irreverência e originalidade e, enfim, da sua arte maior.
Comprei não sei já onde, esta edição brasileira, que tem
aquele problemazito da língua, mas que está muito bem cuidada graficamente,
capa dura, papel mate, preto e branco e cores, respeitando o original. Vale o
peso em ouro.
Blues, Robert Crumb, Veneta (São Paulo), 2021
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