É sabido, Julio Cortázar não é um autor fácil. Não é um autor fácil de ler e mais difícil ainda de traduzir. Alguns dos seus livros são particularmente «difíceis» e constituem verdadeiros desafios; A volta ao dia em 80 mundos é um destes livros. As razões são várias, a começar pela diversidade de formas e objectos do autor, que ora utiliza um estilo que diríamos jornalístico, até à poesia; ora utiliza neologismos, alguns deles jocosos ou deliberadamente errados, ora escreve de forma algo encriptada, passando de um capítulo de fácil leitura para outros de escrita densa; ora conta uma história, ora ensaia sobre um ou outro autor ou artista.
É pois um livro difícil. Já o referi em anterior post,
mas isso não desculpa a tradução, a revisão e a edição.
O que é estranho na tradução, e revisão, é que é
desigual. Alguns dos textos são exemplares, enquanto outros deixam muito a
desejar; parecendo ter sido feitas por diferentes indivíduos, ou pelo menos com
diferente atenção. Já referi a pontuação desastrada que se arrasta pelo livro
todo, mas as gralhas regressam quando menos se espera: «Vale a pena ser
tradutor free-lance porque pouco a pouco vão-se conhecendo os ministérios da
Europa…» (p.105), «não e xiste aí qualquer ficção.» (p. 131) ou, pior, …«é um
livro para ser lido na cama afim de não se adormecer noutras posições…»
(p.118).
Enfim, já terminei o livro. Como disse, a tradução e a
revisão são desastradas, mas nem sempre. Uma boa parte do livro lê-se bem,
mesmo se, graças à pontuação, eu o tenha feito aos solavancos. Mas pronto, quem
como eu não seja capaz de o ler na língua original, sempre digo que os textos
dedicados a Clifford Brown, Louis Armstrong e Thelonious Monk são antológicos.
A volta ao dia em 80 mundos, Júlio Cortazar, Cavalo de Ferro, 2010, 3.ª edição
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