De certeza que já disseram ao Pedro Pinho que o filme é
comprido. Compreende-se a intenção do autor de sublinhar algumas ideias, as
discussões absurdas que alguns, muitos talvez, dos espectadores também, terão
tido no PREC, ou o drama real (a história é baseada em factos reais) que os
operários viveram, por exemplo; mas claramente o tempo - três horas - penaliza o filme. Não
por ser comprido e afastar o público, mas pela desnecessidade de regressar a
algumas cenas mais patéticas uma e outra vez (em prejuízo até, aqui e ali, da
exploração das vidas pessoais
dos personagens). E o absurdo de a elas regressar, como uma obsessão do autor.
A ideia do filme nasceu, ao que é referido, de Jorge Silva Melo, e demorou algum tempo a fazer. O filme desliza com frequência entre o documentário, o teatro e o ensaio, até se decidir (na montagem) pelo cinema. Mas nota-se, mesmo se creio poder dizer que Pedro Pinho logrou, apesar disso e in extremis, segurar o filme, quero dizer, oferecer-lhe a consistência necessária para ser um cinema. Não sem, também aqui, sacrificar o tempo do filme.
Diria que, amputado de uma boa horinha, o filme ganharia.
A ideia do filme nasceu, ao que é referido, de Jorge Silva Melo, e demorou algum tempo a fazer. O filme desliza com frequência entre o documentário, o teatro e o ensaio, até se decidir (na montagem) pelo cinema. Mas nota-se, mesmo se creio poder dizer que Pedro Pinho logrou, apesar disso e in extremis, segurar o filme, quero dizer, oferecer-lhe a consistência necessária para ser um cinema. Não sem, também aqui, sacrificar o tempo do filme.
Diria que, amputado de uma boa horinha, o filme ganharia.
Mas é preciso observar da mesma forma algumas ideias
brilhantes, e não falarei apenas da cena dos operários a dançar, ou essa outra
da descoberta das armas. Não me incomoda a subversão temporal, que sequencia
cenas supostamente actuais e discussões passadas (sem que se trate de
flashbacks), ou a mistura do real e do absurdo: tudo isso é cinema. E por vezes
brilhante, em A fábrica de nada.
E há outros pontos fortes a assinalar no filme, a começar
por uma fotografia e um som magníficos, e uma forma de filmar que tanto deve ao
cinéma vérité como invoca Ozu: sem
quaisquer limitações, a câmara ora persegue os actores que correm, ora se detém
em planos onde os personagens se obrigam a enquadrar num mesmo espaço.
Mas talvez o que mais me tenha impressionado tenha sido a
direcção de actores: Pedro Pinho é mais um dos novos realizadores portugueses
que sabe o que fazer aos actores, e os liberta do espartilho bolorento do velho
teatro português (que parece ter ficado em Gil Vicente, tendo perdido a sua
graça). Pinho quase apenas utilizou actores amadores, ou homens do povo, mas conseguiu deles milagres. Já não mais o «ora-agora-falas-tu,
ora-agora-falo-eu», mas genuínos diálogos. Coisas em que o João Canicho é soberbo,
mas que o genial Miguel Gomes nem sempre resolve. Também aqui, no que fazer dos
actores, Pedro Pinho, de quem eu conheço apenas este filme (eu vou pouco ao cinema), é magnífico.
A fábrica de nada, Pedro Pinho, 2017
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