terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Persona




Revi A Mascara de Bergman mais de 30 anos depois.
E devo confessar que me impressionou tanto ou mais do que me recordava!  
Que dizer sobre A Máscara, melhor dizendo Persona, que não tenha ainda sido escrito? Estamos perante uma obra-prima absoluta do cinema, inigualável-inigualada, mas sobretudo um exercício de cinema singular.
Cinema porque não é literatura ou teatro ou outra coisa qualquer, porque a história não poderia ser contada de outra forma.
Não se trata apenas da história, do conflito, da enfermeira Alma e da actriz Elisabeth Vogler (descobri na internet o nome brasileiro de Persona: Quando duas mulheres pecam!), mas de uma história contada como nenhuma outra forma de expressão (ou arte), poderia contar.  
Trata-se inequivocamente de um Bergman. Está lá tudo: o primado do teatro, o universo concentracionário, o conflito, as mulheres, a fotografia (magnífica, a cópia nova), a luz; mas sobretudo uma realização genial.
Mais do que a forma não literal de contar a história, que oferece ao espectador azo para interpretações ou leituras, ou a fusão/ cisão das personalidades (o que hoje poderia ser feito com muito mais «realismo»), dois momentos pertencem à História do Cinema: o discurso de Alma filmado em dois planos diferentes de forma consecutiva, e o grande plano do rosto da actriz sobre uma luz branca que ofusca todo o cenário.  
Outra vez: estamos perante uma obra-prima absoluta do cinema; a (sétima) arte no seu esplendor!

Persona, Ingmar Bergman, 1966

sábado, 18 de janeiro de 2014

O Olho do Diabo






Comédia de 1960, O Olho do Diabo é um dos filmes mais leves de Ingmar Bergman.
Curioso pela forma; o narrador fala com os espectadores e anuncia cada um dos capítulos da história: uma jovem de 20 anos está prestes a casar e é virgem, o que provoca um treçolho no diabo que decide enviar D. Juan à terra para resolver o problema.
Divertido.


Ingmar Bergman, 1960 

Mónica e o Desejo




Recordava-me de pouco: apenas a jovem Harriet Andersson a apanhar sol no barco nos canais de Estocolmo.
Um dos primeiros filmes de Bergman (1952) Mónica e o Desejo conta a história de uma rapariga inconstante, e tornar-se-ia famoso pela nudez explícita da jovem Harriet Andersson. O filme é mais do que a nudez (e sessenta anos depois o escândalo revela-se ridículo), e ela - a nudez - não é despicienda no contexto, e realmente tão importante para contar a história quanto os longos planos da paisagem (o cinema tinha desses luxos nos anos 50), dos canais e da luz na água, do pouco que vai acontecendo ao longo do verão, mas que vai transformando a relação dos dois jovens fugitivos.


Ingmar Bergman, 1952

Fanny e Alexander





Grande surpresa! A ideia que me tinha ficado dos anos 80 era de um filme menor, mais hollywoodesco. Nada disso! Se do ponto de vista da forma ele é de facto mais linear que A Máscara ou Lágrimas e Suspiros (a confirmar…), trata-se ainda assim do Grande Cinema! Fanny e Alexander é um filme magnífico na minúcia e rigor da descrição de uma família burguesa da Suécia do princípio do século XX; envolvente, terno, empático, autobiográfico.
Bergman conduz-nos pelos olhos do jovem Alexander: a família, a sua complexidade e a teia de relações, os costumes liberais da família, a fantasia, o colorido do Natal, o fascínio pelo teatro, a magia e o ajuste de contas com a moral conservadora (…) protestante. De certa forma está lá tudo – o universo sobre que Bergman de debruçou -, e que ele contou de formas diferentes.
Delicioso!   


Ingmar Bergman, 1982






Morangos Silvestres



Tomei consciência de que Bergman era afinal um moralista, e logo (no primeiro filme do ciclo a que assisti) em Morangos Silvestres. Não propriamente um «reaccionário», como se torna óbvio em Fanny e Alexander, mas no sentido de alguém com preocupações morais que quer transmitir.
O velho médico egoísta que na viagem onde vai receber um título honorário pela actividade de uma vida, reencontra o passado e a juventude, numa catarse redentora que no final lhe embrandece o coração e o reconcilia com o filho e a vida.
O sonho que se confunde com a vida, o relógio sem ponteiros e a carreta que transporta o morto numa rua silenciosa, sem pessoas, e que afinal se revela ele mesmo quando cai e se abre, são icónicos. 



Ingmar Bergman, 1957







Ciclo Ingmar Bergman

Mais de dois anos depois regresso ao Gato Escarninho para escrever sobre um dos meus heróis de juventude, Ingmar Bergman. A vida não é só Jazz, dizem…



Bergman, 40 anos depois! Confesso que as recordações eram confusas.
Revi o Morangos Silvestres, Fanny e Alexander, Mónica e o Desejo e O Olho do Diabo. Espera-me, já no próximo domingo, A Máscara e depois ainda O Sétimo Selo e Lágrimas e Suspiros, entre outros.
Parabéns à Medeia pela iniciativa mas, por Toutatis!, aquela sala (Nimas) é uma tortura! É preciso mesmo ter vontade de ver cinema: cadeiras velhas, gastas, desconfortáveis, filas alinhadas (em vez de desencontradas), mal concebidas, lugares apertados. A isto acresce o facto de não haver lugares marcados, que leva a que os atrasados tenham de procurar pelos seus meios encontrar os lugares soltos na plateia, com os incómodos resultantes para os espectadores já sentados. E ainda o curto intervalo entre as sessões que deixa invariavelmente os lugares aquecidos…
De aplaudir – além da iniciativa – o generoso número de sessões, por norma cinco (mas poderiam talvez ser quatro), entre a uma da tarde e as nove e meia da noite, em dois dias para a maior parte dos filmes. 


Ingmar Bergman, 1918 - 2007