sexta-feira, 29 de novembro de 2024

A ternura em Quintanilha



Uma das coisas surpreendentes em Marcello Quintanilha é a sua capacidade de nos surpreender em cada novo livro.

Tendo-nos surpreendido nos primeiros livros por um estilo herdado do underground dos anos 70, negro e violento, quase ilegível por vezes, ele mudou a forma em cada livro e em «Escuta, formosa Márcia» ele volta a surpreender, numa forma colorida sem contorno, de cores pastel, numa história também ela surpreendente de bonita e sensível, mesmo se os personagens são habitantes da favela e vivem num quotidiano assolado pela violência e vulgaridade do Rio.

Diferente dos primeiros livros também, quase sem diálogos, em «Escuta, formosa Márcia» os diálogos são necessários, «intrometem-se» e fazem parte da narrativa. O livro conta a história vulgar de Márcia, uma enfermeira mãe solteira em conflito com a filha, a «insubordinada Jaqueline», envolvida no submundo do crime organizado das drogas do Rio de Janeiro.

É um drama que Quintanilha nos conta, numa forma crua e descontida, através de um calão por vezes incompreensível para um português, que se adoça no amor de Márcia por Aluísio, o padrasto de Jaqueline; um amor altruísta e redentor. Maravilhoso.

Uma belíssima edição da Polvo. Cinco estrelas.

 


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