segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Roteiro Breve da Banda Desenhada em Portugal

Este Roteiro Breve da Banda Desenhada em Portugal tem vinte anos, mas não perdeu a actualidade. Já me tinha passado pelas mãos, mas não se pode comprar tudo, e só agora, que fiz (muitos) anos, é que um amigo atento mo ofereceu.

O Roteiro foi concebido por Carlos Pessoa, uma das sumidades da banda desenhada em Portugal, e teve uma luxuosa edição dos CTT, de quando os CTT ainda não eram privatizados e faziam cosas interessantes.

O Roteiro conta a história da BD por cá, desde os primórdios, «o acto fundador», como Carlos Pessoa o chama, com Raphael Bordallo Pinheiro, em 1871 ou 72, e esses anos pré-históricos, e depois Stuart Carvalhais e Cottinelli Telmo, e as primeiras publicações regulares, A Paródia, O Gafanhoto ou o Abc-zinho, e os suplementos dos jornais diários, o Século ou o ABC...

São mais de cem anos de banda desenhada, com especial ênfase nos autores portugueses, e nas publicações históricas, como o Mosquito ou o Cavaleiro Andante, e autores como José Garcês, Vítor Peon, Eduardo Teixeira Coelho e a «época de ouro», ou mais recentes como o Falcão, o Zorro, o Mundo de Aventuras, ou o Tintin, já nos anos 60. Exaustivamente, Carlos Pessoa fala do Jacto, Flecha 2000, Jornal do Cuto, Spirou, ou a banda desenhada erudita da Visão, Lobo Mau, de Victor Mesquita a Fernando Relvas, e a explosão dos fanzines.

O álbum termina com «O triunfo dos autores» e os festivais de banda desenhada, e os contemporâneos, e as últimas pranchas pertencem a Pedro Brito, João Fazenda, Miguel Rocha, Nuno Saraiva e José Carlos Fernandes.

Uma pequena pérola, obrigatória para os amantes da BD, com a seriedade da autoria de Carlos Pessoa e o luxo que os CTT (antes da privatização, pois) lhe deram, e onde não faltaram duas séries de selos dedicados à BD.



Guerre à Gaza

Guerre à Gaza (The War at Gaza no original), é de 2024 e está desactualizado, porque foi publicado ainda na época Biden, e pretendia também desmascarar o suporte dos democratas a Netanyahu. Mas, apesar dos declarados objectivos genocidas  da política de Israel, nenhuma mente saudável conseguiria imaginar a dimensão do horror da política de extermínio que os palestinianos estão a viver, mais de um ano depois.

Joe Sacco nem por um momento suporta as acções terroristas do Hamas, e torna isso claro desde a primeira página deste livro, mas ele sabe, desde há muitos anos, que Israel é o agressor.

Joe Sacco é o autor de uma BD militante, e tem utilizado o seu lápis para contar histórias da guerra da Bósnia, do Iraque, e da Palestina - e ele tem sido uma voz lúcida e insistente na luta pela Palestina -, mas também histórias da 1.ª guerra mundial ou da construção da  América (a América dos «pobres»: chronicling life in poverty in different parts of the United States.).

Joe Sacco não se engana e ele sabe sempre de que lado é preciso estar. Este opúsculo de 32 páginas foi feito com a intenção de intervir e denunciar os crimes de Israel em Gaza, e os royalties revertem para organizações caritativas de Gaza.

Guerre à Gaza, Joe Sacco, Futuropolis, 2024