Vi há tempos na
televisão um filme em que o presidente dos Estados Unidos adoecia e era
substituído por um duplo que resolvia contrariar os conselheiros, combatendo os
lobbies e os poderes que corrompiam o governo. O tipo, que era um bom
rapaz, conseguia reconciliar o povo com o presidente e restabelecer a fé no
governo e ainda fazer a mulher do presidente doente, que já só vivia com ele
para as aparências (parece que ele era um traste), apaixonar-se por si. O
presidente acaba por morrer e o duplo regressa à sua antiga vida, mas agora já
com uma namorada nova.
Viva a Liberdade de Roberto Andó tem uma história próxima: o presidente de um grande partido de esquerda italiano aborrece-se e resolve ir procurar uma antiga namorada, deixando o irmão gémeo bipolar no seu lugar. O filme é chato e a história pode não ser bem assim porque eu adormeci pelo meio, mas acordei a tempo de ver que o irmão recuperava a fé dos militantes e dos italianos no partido, com uns discursos inflamados, enquanto o irmão resolvia os assuntos pendentes com a juventude.
Viva a Liberdade foi o filme escolhido para abrir a 12.ª Festa do Cinema Italiano, mas claramente não merece: a história é completamente desconchavada, e nem as boas intenções safam o filme. A fotografia e o som são magníficos, mas a banda sonora é terrível, a direcção de actores incipiente, os actores andam perdidos, e o argumento é completamente pateta.
É verdade que o filme é supostamente uma comédia (por qualquer razão que não entendi, uma parte do público ria a bandeiras despregadas), o que autorizaria algum nonsense, mas para além do óbvio (a colocação de um «maluco» - melhor diria, extravagante - como presidente), o realizador não tem nenhum humor, nem realmente qualquer ideia para o filme. Os discursos do presidente substituto parecem convencer o partido, mas não se percebe porquê, já que são completamente ocos. As palavras são grossas, mas podiam ser ditas por um militante de esquerda ou de direita (todos os políticos são contra a corrupção e trabalham para o povo, dizem). Pelo meio sugere-se que alguns malandros tentam manipular o partido, mas o (agora) presidente enfrenta-os com galhardia, e fica-se com a ideia de que o mano bipolar é um bom candidato a Peron; não se percebendo se o realizador tem alguma ideia do que seria o programa do partido de esquerda.
Também não percebi
muito bem a razão para o título do filme, mas toda a gente é a favor da
liberdade, n’é?
Não foi o melhor
começo para a 12ª Festa do Cinema Italiano
12.ª Festa do Cinema Italiano, 2014, Lisboa, Porto, Coimbra, Funchal, Loulé
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