segunda-feira, 21 de abril de 2014

Grand Budapest Hotel





Grand Budapest Hotel relata as aventuras do concierge Gustave H, contadas pelo seu pupilo, o lobby boy Zero Moustafa.
Moustafa narra com nostalgia, num flash back que percorre todo o filme, uma «civilização» de aristocratas (os seus clientes privilegiados) em final de era, a par do comportamento cúmplice dos concierges «para todo o serviço» e dos lobby boys invisíveis (nascidos para servir). A ascensão da barbárie e do nazismo apenas apressou o final inevitável dessa civilização que o Grand Hotel representava. O hotel revelava-se - no luxo excessivo e no comportamento dos actores - também ele fora de tempo.
 A história, contada entre a comédia e o drama, é razoavelmente bem feita, sem nunca nos faz soltar a gargalhada ou fazer chorar. 
E talvez que seja esse o seu problema: bastante aquém do que o trailler sugeria, o filme deixa-nos relativamente indiferentes.
Um filme simpático, mas nada mais.
Realização de Wes Anderson, 2014.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Gabriel Garcia Márquez



Gabriel Garcia Márquez, 1927 - 2014

Cinema na RTP

Hummm...
Ao contrário do que eu pensava, a RTP tem programação de cinema. Irregular, tímida, altas horas, mas tem alguns filmes interessantes - entre os quais alguns incontornáveis: Esplendor na Relva, Masculino Feminino - programados.
Seleccionei para as próximas duas semanas:
- Um Rosto na Multidão, Elia Kazan, 1957, 19 de Abril, RTP2, 22.45h
- Masculino Feminino, Jean Luc Godard, 1966 - 20 de Abril, RTP1, 01.00h
- Mistérios de Lisboa, Raul Ruiz, 2010 - 24 de Abril, RTP1, 02.00h
- Esplendor na Relva, Elias Kazan, 1961, 26 de Abril, RTP2, 22.50h
- Adeus Macho, Marco Ferreri, 1978 - 27 de Abril, RTP1, 01.30h 
- Somewhere (Algures), Sofia Coppola, 2010, RTP1, 23.30h
- O Caimão, Nanni Moretti, 29 de Abril, RTP1, 00.30h
- Gran Torino, Clint Eastwood, 1 de Maio, RTP1, 00.30h
- O Compromisso, Elia Kazan, 1969, 3 de Maio, RTP2, 22.50

  
(atenção: as horas são sempre do final da noite e portanto podem corresponder já à madrugada do dia seguinte)


quarta-feira, 16 de abril de 2014

RIP Walter White




Morreu Walter White, o meu fabricante de matanfetaminas («crystal blue») preferido.
Eterna saudade 
(ou «see you in hell»)

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Primário


Texto integral publicado no Facebook de Alexandra Lucas Coelho

“Não há gravações do que se passou durante a entrega do Grande Prémio de Romance e Novela da APE, na sala 2 da Fundação Gulbenkian, a 7 de Abril. Havia jornalistas presentes mas não em trabalho, a tomar notas. Por isso não há forma de citar “ipsis verbis” o que disse o Secretário de Estado da Cultura (SEC), Jorge Barreto Xavier. Mas há algumas dezenas de testemunhas que podem acrescentar ou corrigir o que vou tentar resumir agora aqui, por tudo se ter passado numa cerimónia pública.
Sendo este prémio tradicionalmente entregue pelo Presidente da República, decidiu o actual presidente, Cavaco Silva, à semelhança de anos anteriores, fazer-se representar. Neste caso, pelo seu Consultor para Assuntos Culturais, Diogo Pires Aurélio. Isto era o que eu sabia quando escrevi o discurso para a ocasião.
Já no átrio da Gulbenkian, perto da hora marcada, 18h, a APE comunicou-me que a cerimónia estava um pouco atrasada porque esperavam o Secretário de Estado da Cultura.
Quando Barreto Xavier chegou e entrámos todos para a sala, o protocolo sentou-o ao centro da mesa, junto a Diogo Pires Aurélio. Nas pontas, Gulbenkian (representada por Rui Vieira Nery), APE (José Manuel Mendes, José Correia Tavares), júri (representado por Isabel Cristina Rodrigues) e eu. Vieira Nery abriu, sucintamente; seguiram-se discursos da APE; Isabel Cristina Rodrigues leu o texto em que o júri justifica a atribuição do prémio a "E a Noite Roda". Diogo Pires Aurélio e eu levantámo-nos para que ele me entregasse o sobrescrito do prémio, um minuto de formalidade, sem palavras, para a fotografia. Chegou a minha vez de discursar, li as páginas que trazia. No fim, houve uma ovação de pé. Digo isto para dar conta da atmosfera que os representantes do poder político tinham diante de si.
A APE convidou então o SEC a intervir. Ele escolheu falar sentado, sem se deslocar ao púlpito. Uma das coisas que disse, na parte, digamos, cultural da intervenção, foi que eu bem podia declarar que não fazia ficção porque claro que fazia ficção porque é isso que um escritor faz, ficção. Foi o primeiro arroubo dirigista, que nos devia ter preparado para o que aí vinha.
Na parte, digamos, política, destaco quatro coisas: o SEC disse que eu devia estar grata por estarmos em democracia e eu poder dizer o que dissera; que durante anos os portugueses se tinham endividado acima das suas possibilidades; que, ao contrário do que eu dissera, ninguém saíra de Portugal por incentivo deste governo; e, sobretudo, que eu tinha dito que não devia nada a este governo mas que isso não era verdade porque este governo também subsidiava o prémio.

Foi a mais escancarada confusão de Estado com Governo que já presenciei, para além do tom chantagista ao nível de jardim de infância das ditaduras. E, apesar dos apupos, de quem lhe gritava da plateia "Mentira!" e "O Estado somos nós!", o SEC insistia.
Referia-se ele, assim, a um prémio com décadas de existência; atribuído a alguns dos mais extraordinários escritores de língua portuguesa; cujo montante em dinheiro resulta de vários patrocínios, sendo que os públicos resultam do dinheiro dos contribuintes; e que tem atravessado os mais variados governos, sem que nunca, que me recorde, algum governante o tenha tentado instrumentalizar. Foi a mais escancarada confusão de Estado com Governo que já presenciei, para além do tom chantagista ao nível de jardim de infância das ditaduras. E, apesar dos apupos, de quem lhe gritava da plateia "Mentira!" e "O Estado somos nós!", o SEC insistia.
Como cabe ao Presidente da República, ou seu representante, encerrar a cerimónia, a APE instou Diogo Pires Aurélio a falar. O representante do Presidente da República declinou e encerrou a sessão. No fim, cumprimentou cordatamente todos os presentes na mesa e retirou-se.
Já Barreto Xavier, aproximou-se de mim na confusão da retirada. Julguei que se vinha despedir, depois de dizer o que tinha a dizer. Nada disso. Queria dizer-me, visivelmente irritado, que o que eu fizera tinha sido de um grande "primarismo". Respondi-lhe que então devia ter dito isso mesmo ao microfone, que eu já dissera o que tinha a dizer e não lhe ia dizer mais nada. Fui andando, para contornar a mesa e acabar com a cena, mas o SEC insistia: que eu tinha sido “primária”.
O "Público" pediu-me o discurso para publicar online na tarde do dia 8. Quatro horas depois, 89 mil pessoas tinham lido o texto. Ontem, o post no FB do "Público" tinha sido visto por 170 mil. Obrigada a todos pela partilha”.

Link para o discurso de Alexandra Lucas Coelho ao receber o prémio da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro E a Noite Roda, publicado no Público, onde é jornalista.

Festa do Cinema Italiano


Não sei se vou poder ir a mais algum filme do ciclo (ver post anterior), com alguma pena.
Não conheço a maior parte dos nomes e filmes programados, sendo que alguns são documentários ou curtas metragens. Mas há também uma homenagem a Mario Bava, um histórico do cinema italiano, dois clássicos de Bertolucci e um Orson Welles, entre as incógnitas.
Não tenho paciência para O Último Imperador. Já na altura me aborreci e não irei ver a versão 3D. Mas gostava de rever O Último Tango em Paris, um grande filme, denso, dramático, superlativo, que considero o melhor filme - maldito por motivos idiotas - de Bernardo Bertolucci
E tenho imensa curiosidade de conhecer o filme recuperado de Orson Welles, Too Much Johnson (1938, mudo).



O Último Tango em Paris
, Bernardo Bertolucci, 1972 


Too Much Johnson, Orson Welles, 1938

12.ª Festa do Cinema Italiano, 2014, Lisboa, Porto, Coimbra, Funchal, Loulé
 

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Viva a Liberdade?





Vi há tempos na televisão um filme em que o presidente dos Estados Unidos adoecia e era substituído por um duplo que resolvia contrariar os conselheiros, combatendo os lobbies e os poderes que corrompiam o governo. O tipo, que era um bom rapaz, conseguia reconciliar o povo com o presidente e restabelecer a fé no governo e ainda fazer a mulher do presidente doente, que já só vivia com ele para as aparências (parece que ele era um traste), apaixonar-se por si. O presidente acaba por morrer e o duplo regressa à sua antiga vida, mas agora já com uma namorada nova.  


Viva a Liberdade de Roberto Andó tem uma história próxima: o presidente de um grande partido de esquerda italiano aborrece-se e resolve ir procurar uma antiga namorada, deixando o irmão gémeo bipolar no seu lugar. O filme é chato e a história pode não ser bem assim porque eu adormeci pelo meio, mas acordei a tempo de ver que o irmão recuperava a fé dos militantes e dos italianos no partido, com uns discursos inflamados, enquanto o irmão resolvia os assuntos pendentes com a juventude.  

Viva a Liberdade foi o filme escolhido para abrir a 12.ª Festa do Cinema Italiano, mas claramente não merece: a história é completamente desconchavada, e nem as boas intenções safam o filme. A fotografia e o som são magníficos, mas a banda sonora é terrível, a direcção de actores incipiente, os actores andam perdidos, e o argumento é completamente pateta. 
É verdade que o filme é supostamente uma comédia (por qualquer razão que não entendi, uma parte do público ria a bandeiras despregadas), o que autorizaria algum nonsense, mas para além do óbvio (a colocação de um «maluco» - melhor diria, extravagante - como presidente), o realizador não tem nenhum humor, nem realmente qualquer ideia para o filme. Os discursos do presidente substituto parecem convencer o partido, mas não se percebe porquê, já que são completamente ocos. As palavras são grossas, mas podiam ser ditas por um militante de esquerda ou de direita (todos os políticos são contra a corrupção e trabalham para o povo, dizem). Pelo meio sugere-se que alguns malandros tentam manipular o partido, mas o (agora) presidente enfrenta-os com galhardia, e fica-se com a ideia de que o mano bipolar é um bom candidato a Peron; não se percebendo se o realizador tem alguma ideia do que seria o programa do partido de esquerda.  
Também não percebi muito bem a razão para o título do filme, mas toda a gente é a favor da liberdade, n’é?

Não foi o melhor começo para a 12ª Festa do Cinema Italiano

Viva a Liberdade, Roberto Andó, 2013
12.ª Festa do Cinema Italiano, 2014, Lisboa, Porto, Coimbra, Funchal, Loulé

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Deux ou trois choses que je sais d'elle





Não sei porque carga d’água a RTP resolveu programar para uma madrugada da semana que passou o icónico filme de Godard de 1967: Deux ou trois choses que je sais d'elle. Não faz parte de nenhum ciclo, não me parece ter surgido a propósito de nada e não teve por parte da televisão do Estado nenhum destaque. Os desígnios da RTP são insondáveis, dizem…

Deux ou trois choses que je sais d'elle cruza os géneros documentário e filme; aliás, eu diria que é explicitamente um falso documentário/ falso filme, sem se fixar num modelo; e Godard ensaia também alguns elementos do filme politizado que seria a marca do período seguinte, pós Maio de 68.

«Elle» é simultaneamente a cidade, filmada cruamente sob diversas perspectivas ou a personagem de Juliette Janson. O ruído dos carros ou das betoneiras intromete-se agressivamente no enredo, uma câmara fixa ou vogando lentamente de forma aleatória corta os diálogos ou mesmo os esconde, desenhando uma cidade desumanizada por um capitalismo cruel. Juliette é uma dona de casa frívola que se prostitui para alimentar o consumismo; mas outros personagens têm comportamentos inconsistentes ou mais ou menos fúteis.

A guerra do Vietname, discursos e imagens de políticos e do quotidiano atravessam-se nas conversas nos cabeleireiros, nos cafés ou nas oficinas, em contrapontos desagradáveis; e desagradável é o termo a utilizar, já que Godard nunca se preocupa em construir uma narrativa bonita ou sequer linear. Pelo contrário, o seu objectivo é incomodar.

Deux ou trois choses que je sais d'elle pretende ser uma alegoria ao capitalismo selvagem e aos seus efeitos nas cidades, na sociedade e nos indivíduos. A mensagem, relativamente primária, combina-se na forma, nas formas, experimentalistas, que são desde a primeira hora marca de Jean Luc Godard.
Documento de época precioso, infelizmente Deux ou trois choses que je sais d'elle não resistiu ao tempo.

(Curiosamente Deux ou trois choses... foi realizado no mesmo ano que Belle de Jour de Luis Buñuel, cuja história se centra numa mulher de um cirurgião - Catherine Deneuve, 24 aninhos! - que tem uma vida dupla como prostituta num bordel de Paris.
E estoutro sim, resistiu ao tempo)

Deux ou trois choses que je sais d'elle, Jean Luc Godard, 1967


Nostalgia!



Nostalgia!
Otis Redding (the one and only), Eric Burdon (The Animals) & Chris Farlowe (Colosseum), juntos e ao vivo em 1966!  
Levanta o som!
http://www.youtube.com/watch?v=RUcTKjOQWII