O
meu amigo Rui Martinho fez-me chegar o último número (duplo, 71/72) de A Ideia, «revista de cultura libertária».
Prestes
a comemorar quarenta anos de (conturbada) vida, o número,
grosso, é inteiramente dedicado ao surrealismo: textos de cinco dezenas de pensadores, surrealistas ou nem tanto, entre histórias, ensaios e contributos diversos.
Textos
de valor diferente, inevitavelmente, entre o «conheci o X, era um gajo porreiro»,
alguns ensaios sobre a pertinência de incluir Y entre os surrealistas, histórias
onde se cruza o grande cisma do Café Gelo com as impertinências do Pacheco, alguns
equívocos do tipo «o surrealismo é uma forma de humor», ou a interrogação do
lugar dos surrealistas entre os movimentos políticos e sociais, ou enfim alguns
poemas; constituem uma preciosa reunião de registos destinados a memória futura
da História do Surrealismo em Portugal, a fazer.
Fala-se de Cruzeiro Seixas,
Herberto Hélder, Mário Botas, Mário Cesariny, Lima de Freitas, António Maria
Lisboa, Mário Henrique Leiria, Luiz Pacheco, Ernesto Sampaio, Carlos Eurico da
Costa, António Telmo, António José Forte, Virgílio Martinho, Al Berto, e inúmeros
outros, entre referências fugazes e recordações, surrealistas, vagabundos das
letras e das artes plásticas, também os penduras e os diletantes, toda a
qualidade de artistas, filósofos, pensadores, surrealistas, neo-realistas e
outros.
Registo
precioso, como disse, peca pelo excesso do panegírico e falta-lhe o pico a azedo da neura,
da maledicência e da crítica, que afinal sempre temperou a História do Surrealismo
em Portugal.
O surrealismo merecia mais um número ou dois. Afinal o surrealismo é uma forma saudável de vida.
Direcção e edição de António Cândido Franco.
A Ideia, 71-72, Novembro 2013