-Se eu quisesse, enlouquecia. Sei
uma quantidade de histórias terríveis. Vi muita coisa, contaram-me casos
extraordinários, eu próprio...
Começava assim a primeira história
que li do Herberto Helder, há quarenta anos, retirada de Os Passos em Volta.
O deslumbramento foi partilhado com
o Carlos Farinha (onde andará?) numa livraria da Rua do Ouro que já não existe.
Livraria moderna, para a altura, podíamos vasculhar e ler sem afogos, e por lá descobri
também o Exercícios de Estilo do Pacheco e sei lá que mais livros, bds e
discos. Já não existe.
Pois sucedeu que o livro me
desapareceu há muitos anos e me vi privado de o ler. O homem proibiu a
sua reedição por muitos anos mas, vá-se lá saber porquê (hum, falta de
dinheiro, talvez), mudou de ideias o ano passado.
São vinte e tal histórias – terríveis, extraordinárias – contadas pelo mais obscuro poeta, que reli com o mesmo deslumbramento do descobrimento, e que
guardo agora na estante com um garfo por cima: se apanho alguém a levar-mo,
espeto-lhe o dito na mãozinha surripa.
Os passos em volta, Herberto Helder
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