quinta-feira, 26 de março de 2015

Herberto Helder, 1930-2015





O poema é um animal;
nenhum poema se destina ao leitor;
ou, como um quadro, assume o poder dos fetiches, objectos mágicos ou instrumentos de esconjurar os espíritos, ou a emoção, ou o inconsciente, guardando o homem de uma oculta dependência de tudo;
porque se vive dos lucros da superstição; 
e é forçoso existir a natureza, outorgada às nossas violações;
ou que as regras de organização do poema são as mesmas da natureza, mas os elementos com que o poema se organiza não estão na natureza; 
e o poeta não transcreve o mundo, mas é o rival do mundo.
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Herberto Helder, Cobra, 1977, &etc