quinta-feira, 26 de julho de 2012

O Cavalo de Turim, de Béla Tarr





O Cavalo de Turim é um filme perturbante.
Longo, muito longo, doentio, negro, dramático, obsessivo, mesmo desagradável, com apenas dois actores (mais seis em curtíssimas aparições), com uma história que se conta em poucos segundos. Mas rigoroso, de todo excessivo, minucioso, insuperável na representação, uma banda sonora, ou melhor um som, exemplar, absolutamente integrado na peça, uma fotografia - preto, branco, cinza - deslumbrante, e principalmente uma câmara que tanto rodopia em torno dos actores como os enfrenta em planos longuíssimos de longos minutos. Tanto se detém de frente numa figura como desliza em planos impossíveis, sem um tremor, sem uma hesitação, transpondo-nos para dentro do ecran.
A sensação que fica no final do filme é que nada podia ser feito de outra forma: não é possível destacar o som, os actores ou a luz; tudo se integra no objecto na sua perfeição.
O dramatismo e a densidade de O Cavalo de Turim evocam as ambiências doentias de Virgil Georgiu (romeno, como ele), mas é obsessivo e perturbador como Camus e Kafka. O Cavalo de Turim começa por incomodar na construção das figuras, na repetição obsessiva dos actos, na construção da inevitabilidade do quotidiano, os actores cercados pelo vento e pelo cinzento, acossando-os, até os desprover do mais elementar, da água, do fogo depois, e enfim da luz.
Sem explicar, os actores são cercados, somos cercados, numa teia insuportável que constrói o desfecho, absurdo, mas que é afinal o único possível, o derradeiro fim. 
O Cavalo de Turim é a antítese de Hollywood - obviamente construído para ser visto, mas sem a preocupação do público -, a antítese do cinema-espectáculo, doentio, loooongo: 146m, inquietante, mas afinal cinema no seu estado mais puro.

O Cavalo de Turim, Béla Tarr, 2011