sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Vitor Silva Tavares Para já para já

O Vitor Silva Tavares é um daqueles tipos que me irritam. 
Editor da &etc, dedicou a sua vida a publicar as coisas dos outros e dedicou muito pouco do seu tempo a escrever, que é uma coisa que ele faz maravilhosamente.
Conheci-o (aos seus escritos) dos tempos da &etc (o pasquim, anos 70), que persiste como uma referência absoluta das letras e das artes em Portugal; e eu diria com a importância do que foi a Orpheu ou a Presença (não quero discutir as diferenças). Acutilante, incómoda, interventiva, graficamente deslumbrante, merecia ser redescoberta por todos os que têm pretensões a fazer qualquer coisa no campo das artes.

Estive a pesquisar na Internet: a &etc foi durante 26 números (1967...) um «magazine de letras, artes e espectáculos do Jornal do Fundão» e teve vida autónoma entre 1973 e 1974: 25 números. É esta última existência que eu conheço e de que tenho a colecção encadernada (por um amigo). Por lá passaram, vejam só (recorrendo de novo à Internet): Herberto Hélder, Nuno Júdice, Pedro Oom, António Ramos Rosa, Fiama Hasse Pais Brandão, João César Monteiro e Armando Silva Carvalho, e muitos mais: um luxo!!!
Depois de 74 retomou o ofício de editor (que tinha iniciado nos anos 60 na Ulisseia), já na nova &etc, com uma colectivo Coisas, a que se seguiu, creio, Morituri Te Salutant de Joao César Monteiro, e mais umas dezenas? centenas? nos quarenta anos que se seguiram. 
No final do ano passado Paulo da Costa Domingues e a Letra Livre publicaram &etc uma editora no subterrâneo (atenção: estou quase a fazer anos!), homenagem ao editor Vitor Silva Tavares, e o lançamento teve direito a um beberete para que os organizadores tiveram o desplante de não me convidar (cá se fazem...).
Mas regressando à minha irritação: o Vitor Silva Tavares é um preguiçoso. Digam-me vocês quantos livros conhecem do rapaz; quantas coisas leram dele? E no entanto...
Passeava-me eu pela Pó dos Livros quando deparei com um livreco - vinte e tal páginas - pardacento com dois textos do dito: um primeiro - Para já para já -, de 1972, e um segundo - Contumácia-, posfácio actual, explicação humorada - muito ao seu jeito- do desaparecimento do primeiro; acrescentados de uma nota dos editores.
Que vos hei-de dizer? Que em poucas linhas se reconhece o génio da escrita do Pacheco, do Cesariny, do Virgilio Martinho ou do Pedro Oom, que citam; e compreenderão o meu desgosto e a minha irritação pela preguiça de um dos grandes escritores da língua portuguesa, mais ocupado na boémia do ofício da edição. Lamentável.    
(Parabéns, e obrigado (quand même), caro Vitor Silva Tavares)  

Para já para já, Vitor Silva Tavares, dois dias edições, 2012

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